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Projeto Caminhadas sobre o passado
6 de junho de 2025
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Projeto Caminhadas sobre o passado

Sobre o projeto:

Aprovada pela Lei Paulo Gustavo através do Edital 11/2023 da Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Lazer do Rio Grande – RS, a Caminhada sobre o Passado teve como objetivo promover a valorização do patrimônio histórico do município do Rio Grande, através de um passeio guiado pelo Sítio Arqueológico Porto Histórico, em que convidamos toda a comunidade rio-grandina para conhecer a história do Cais do Porto Velho, contada por arqueólogos, historiados e personagens teatrais.

Durante a caminhada, que inicia dentro do prédio da Alfândega, atual sede da Receita Federal, os participantes exploram as descobertas arqueológicas realizadas durante o Projeto de Revitalização do Porto Histórico, incluindo objetos do século XIX. Esses vestígios da vida cotidiana da época representam a chegada da modernidade à cidade do Rio Grande e destacam a transformação que o antigo cais do porto trouxe para a região, atuando como ponto de conexão entre a cidade e o mundo.

O projeto foi executado entre agosto de 2024 e abril de 2025, contemplando seis edições que ocorreram sempre em dois turnos (manhã e tarde), totalizando 12 caminhadas pelo passado. As duas primeiras edições ocorreram durante a Semana do Patrimônio de 2024, com dois dias consecutivos de passeios abertos à toda a comunidade riograndina. Em outubro de 2024, realizamos a terceira edição, uma versão especial com tradução em Libras e a participação dos estudantes da E.M.E.B. Carmem Regina Teixeira Baldino. A quarta edição, em novembro de 2024, contou com os alunos da E.M.E.F. Viriato Correia. Por fim, em abril de 2025, promovemos as quinta e sexta edições, voltadas para as alunas da E.E.E.M. Mascarenhas de Moraes.

O Sítio Arqueológico Porto Histórico:

Nos primórdios do século XIX, Rio Grande destacava-se como principal centro comercial da Capitania de São Pedro, impulsionando a necessidade de controle alfandegário. Para coibir o contrabando, a Alfândega foi criada por Carta Régia em 15 de julho de 1804 e instalada em outubro daquele ano. Após ocupar dois edifícios provisórios entre 1804 e 1832, ergueu-se o prédio neoclássico atual, concluído em 1879 sob ordens do Visconde de Rio Branco e de D. Pedro II. Tombado pelo IPHAN em 22 de agosto de 1967, o edifício hoje abriga a Receita Federal e o Museu Histórico de Rio Grande, preservando traços de sua importância para o comércio marítimo.

Com o aumento das trocas de importação e exportação, o Governo Imperial autorizou, em 1869, o desenvolvimento do Porto do Rio Grande, cujo projeto simbolizava o progresso da cidade; a pedra fundamental do Cais foi assentada em 6 de fevereiro de 1870. Em outubro de 1870, inaugurou-se a primeira seção do Cais da Alfândega e, a 28 de abril de 1872, foi aberta a segunda seção, ampliando a capacidade de atracação e fortalecendo o elo entre Rio Grande e o mercado internacional.

O engenheiro responsável pela construção do Cais do Porto Velho foi José Ewbank da Câmara, cuja atuação nas obras, iniciadas em 1870, foi amplamente elogiada pela forma como superou o terreno pantanoso para erguer uma estrutura essencial ao comércio marítimo da época.

A edificação do cais representou um marco de modernização para Rio Grande, pois permitiu maior fluidez na importação e exportação de mercadorias, consolidando a cidade como um dos principais polos econômicos da região

Socialmente, a obra gerou dezenas de empregos e estimulou a formação de novas redes urbanas, ao mesmo tempo em que o Porto do Rio Grande passou a funcionar como um elo direto entre a capitania e mercados internacionais, ampliando a circulação de pessoas, ideias e produtos.

Ao longo das décadas, o cais passou por várias reformas voltadas à modernização estrutural, sempre mantendo sua relevância para o escoamento de cargas e a dinâmica urbana.

Nas décadas seguintes, foram erguidos os armazéns do porto como os conhecemos hoje. Para acomodar essas novas edificações, a linha de costa do cais foi ampliada por meio de um aterro, e parte das pedras do antigo Cais do Porto Velho foram reaproveitadas nessa nova extensão. Porém, a camada de argamassa calcária que as sustentava acabou sendo coberta pelo aterro e pelo novo calçamento, ocultando a construção histórica sob a nova superfície.

Em 2023, a equipe da Archaeos Consultoria em Arqueologia realizou o acompanhamento arqueológico das intervenções do Projeto de Revitalização do Porto Histórico do Rio Grande, momento em que a troca do calçamento da rua Riachuelo revelou a estrutura do cais de pedra de 1872, ainda intacta sob o calçamento.

Sobre o cais de pedra — ou Cais da Boa Vista — as pesquisas arqueológicas revelaram as pegadas deixadas por trabalhadores, pescadores, crianças e/ou transeuntes da época. Além disso, junto ao sedimento do aterro vieram à tona quase 14 mil fragmentos de objetos arqueológicos: pequenos vestígios que contam histórias sobre o cotidiano da sociedade rio-grandina do século XIX.

Réplicas 3D: preservar & sentir com as mãos

Um dos focos da narrativa apresentada durante a caminhada é história dos trabalhadores que ergueram o cais. A ligação material com essas pessoas se concretizou numa das descobertas arqueológicas mais marcantes do Cais do Porto Velho: as pegadas impressas sobre o cais.

Embora hoje essas marcas permaneçam enterradas sob a calçada após o final da revitalização do espaço, elas puderam ser trazidas de volta à luz graças às réplicas 3D produzidas pelo projeto em parceria com o laboratório ARISE – Arqueologia Interativa e Simulações Eletrônicas da Universidade Federal do Rio Grande. Desta forma, a comunidade pôde, simbolicamente, estar em contato com os rastros deixados por quem construiu o cais.

Além da réplica da pegada, realizamos a impressão 3D de outros dois objetos arqueológicos encontrados no cais, permitindo que os participantes manuseassem essas réplicas e se aproximassem ainda mais dos vestígios materiais do passado. Complementando essa experiência, foram produzidas miniaturas dessas peças, entregues como brindes para o público.

As réplicas 3D funcionam como pontes táteis que permitem ao público “sentir com as mãos” o patrimônio arqueológico, transformando vestígios antes inacessíveis em experiências concretas. Ao reproduzirem em escala real os objetos descobertos no Cais do Porto Velho, além de garantir a preservação dos bens originais, que não podem ser manipulados continuamente, no contexto do Porto Histórico do Rio Grande, elas tornaram acessíveis as pegadas originais, servindo como recursos didáticos.

Essa abordagem inclusiva beneficia não apenas visitantes com deficiência visual, mas também crianças e adultos que respondem melhor a estímulos sensoriais diretos, já que o contato manual com os objetos replica sensações que a simples visualização não alcança. As miniaturas, além de servirem como lembranças táteis da atividade, também estão disponíveis online, acompanhadas de suas histórias, no perfil da Archaeos Consultoria no Sketchfab.

Patrimônio, arte & Arqueologia

Durante cada caminhada, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer o jovem engenheiro José Ewbank da Câmara, responsável pelo projeto do Cais da Boa Vista, que compartilha detalhes sobre os desafios técnicos e o contexto histórico de sua obra. Em seguida, o personagem João da Costa surge para representar os operários que trabalharam na construção do Cais do Porto Velho, revelando, em seu depoimento, tanto as dificuldades enfrentadas na época quanto os sonhos e aspirações que alimentava sua vida enquanto moldavam o futuro da cidade do Rio Grande.

As narrativas históricas durante as caminhadas são vividas por atores da Cia. Teatral Era uma Vez, grupo teatral de longa trajetória no município, em uma parceria que une arte e arqueologia. Os roteiros, elaborados pela equipe da Archaeos Consultoria em Arqueologia, baseiam-se em dados históricos identificados nas pesquisas, enquanto a direção artística, sob responsabilidade de Marlon Britto, garantia a fidelidade histórica e o engajamento narrativo.

Saiba mais: Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022):

A Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022) foi sancionada com o objetivo de mitigar os impactos da pandemia no setor cultural brasileiro. Ela viabilizou o repasse de recursos do Fundo Nacional de Cultura para apoiar produções artísticas e projetos culturais em todo o país, englobando áreas como audiovisual, música, teatro, dança, literatura e patrimônio histórico.

A lei estabeleceu que os recursos fossem distribuídos de forma descentralizada, repassados diretamente a estados e municípios para fortalecer iniciativas culturais locais. Além disso, priorizou a inclusão e a diversidade, exigindo que os projetos contemplassem a pluralidade cultural do Brasil e desse atenção especial a grupos historicamente marginalizados, como indígenas, quilombolas e populações LGBTQIA+. Foi também fomentado o acesso de pessoas com deficiência por meio de ações de acessibilidade, garantindo que as atividades culturais alcançassem um público mais amplo. Saiba mais em: https://www.gov.br/cultura/pt-br/assuntos/lei-paulo-gustavo/central-de-conteudo/como-funciona

O edital 11/2023:

O projeto “Caminhada sobre o Passado” foi contemplado pelo Edital 11/2023 da Secretaria de Município da Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL) do Município do Rio Grande – RS. Esse edital tinha por objetivo selecionar e apoiar projetos culturais não audiovisuais em diferentes setoriais culturais do município de Rio Grande. Saiba mais em: https://www2.riogrande.rs.gov.br/conteudo/100090/1922/1937?titulo=LPG+EM+RIO+GRANDE

Realização:

O projeto foi realizado pela Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Lazer de Rio Grande, com recursos da Lei Paulo Gustavo do Ministério da Cultura, e teve sua organização feita pela ArqueoArt – Educação Patrimonial e Produção Cultural, em parceria com a Archaeos Consultoria em Arqueologia.

Apoio:

O projeto contou com apoio das empresas AGM e Serra Morena e  laboratório ARISE – Arqueologia Interativa e Simulações Eletrônicas da Universidade Federal do Rio Grande.

Agradecimentos:

Agradecemos à Delegacia da Receita Federal do Brasil em Rio Grande - RS, representada pelo Delegado Cristiano de Sousa Demboski, por ter gentilmente cedido uma sala no histórico Prédio da Alfândega para a realização das atividades do projeto.

Agradecemos também a Secretaria Municipal de Educação do Rio Grande - RS que viabilizou o contato com as escolas locais, garantindo a participação de estudantes na iniciativa, e a Secretaria Municipal de Mobilidade, Acessibilidade e Segurança do Rio Grande – RS, que disponibilizou transporte para os alunos da EMEF Viriato Correia, assegurando o acesso dos estudantes às caminhadas.